terça-feira, 3 de agosto de 2010

Os 10 mandamentos do "divino mercado"

Os 10 mandamentos da religião (neo)liberal em veneração ao divino Mercado apresentados por Dany-Robert Dufour

a divulgação das teses de Dany-Robert Dufour não significa a nossa concordância com elas. Pensamos sim que o seu conhecimento permitirá um debate mobilizador sobre os efeitos da ideologia neo-liberal e a consequente capacitação crítica de quem resiste a mais este deus, desta vez sob a forma do divino Mercado.

Um novo deus subiu aos altares nas nossas sociedades contemporâneas, o Mercado. Um deus que se apresenta como um remédio para todos os males e que promete a felicidade eterna.

A religião, que o glorifica, esteve em gestação nos últimos 3 séculos e assistimos hoje aos seu triunfo e consagração.

10 mandamentos do (neo)liberalismo:
1) Deixar-te-ás guiar pelo egoísmo e entrarás alegremente no rebanho dos consumidores
Nota: o que equivale à destruição de qualquer individualidade


2) Utilizarás o outro como um meio para alcançares os teus fins
Nota: o que equivale à destruição de toda a «common decency»


3) Poderás venerar todos os ídolos à tua escolha, desde que adores o deus supremo, o mercado
Nota: trata-se aqui do retorno (e reforço) do elemento religioso

4) Não quererás ser um Kant-em-si a fim de escapares ao rebanho
Nota: o que equivale à neutralização do ideal ( isto é, do espírito) crítico


5) Combaterás todo o governo e serás tu a assumir a boa governação
Nota: este mandamento acabará por se traduzir na destruição da dimensão política substituída pela soma dos interesses privados


6) Ofenderás todo o professor que esteja em posição para te educar
NOTA: o que equivale à desconsideração da transmissão de saberes e ao descrédito do poder formador das obras


7) Ignorarás a gramática e maltratarás o vocabulário
Nota: tal conduzirá à criação de uma novlíngua


8)Violarás as leis sem te importares com isso
Nota: o que vai levar, paradoxalmente, à proliferação do direito e dos procedimentos quanto à invalidação de toda a Lei


9) Abrirás indefinidamente a porta já aberta por Duchamp
Nota: o que conduzirá à transformação da negatividade da arte numa comédia de subversão


10) Libertarás as tuas pulsões e procurarás uma fruição sem limites
Nota: o que equivale à destruição de uma economia do desejo e sua substituição por uma economia de fruição

domingo, 20 de junho de 2010

O Deus do mercado

O mercado é o deus do mundo pós-moderno, diz o filósofo francês Dany-Robert Dufour. Não, ele não usa uma metáfora, mas faz uma afirmação literal. "É preciso não esquecer que o mercado não é uma invenção dos mercadores, mas de teólogos", afirma. "O que era justamente o caso de Adam Smith, como hoje se sabe."

A reportagem é de José Castello e publicada pelo jornal Valor, 14-08-2009.

O economista e filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) foi o primeiro a falar a respeito de uma "mão invisível" que levaria o mercador ou negociante a, mesmo sem decidir isso, "fazer o bem". Afirma Dufour: "A expressão que emprego - o divino mercado - não é uma metáfora, ela deve ser entendida literalmente: está postulado que existe uma religião natural". De acordo com ela, não é preciso ceder à santidade; basta deixar agir o interesse privado.

"O Divino Mercado" é justamente o título do mais recente livro de Dany Dufour (Companhia de Freud, tradução de Procópio Abreu). Nesse novo ensaio, Dufour, que é professor de Ciências da Educação na Universidade Paris VIII e diretor de programa no Colégio Internacional de Filosofia, desenvolve algumas das teses já tratadas em "A Arte de Reduzir as Cabeças", estudo sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal (Companhia de Freud, 2005, tradução de Sandra Regina Felgueiras). Como pano de fundo dos dois livros, os efeitos da grave crise econômica que sacode o planeta.

Por que um filósofo se interessa pelo estudo da sociedade ultraliberal contemporânea? O motivo é simples: no seu entender, o salto do liberalismo clássico para a sociedade ultraliberal produziu, além de mudanças radicais na realidade econômica e social, uma drástica alteração na noção de sujeito. Ela mudou os parâmetros a partir dos quais o sujeito se constitui.

"As mudanças na economia mercantil não são tão inócuas para a economia psíquica", diz Dufour. Mudou a economia, mudou o sujeito que nela se movimenta. O antigo sujeito que chegava aos consultórios de psicanálise era, em geral, um indivíduo "crítico e neurótico", isto é, guiado pelo desejo de compreender e pela retenção de suas pulsões. Problemas que levava para seu analista.

Afirma Dufour: "O novo sujeito que hoje se apresenta é acrítico e pós-neurótico". Compreender não lhe interessa mais, é algo que, antes disso, o entedia. O mercado promete atender a cada um de seus apetites - logo, em vez de reter as pulsões, ele as "resolve" com o vício, o mais frequente deles por drogas. Esse novo sujeito, acrescenta Dufour, "é levado a adotar condutas perversas (instrumentação do outro em função de seus gozos e interesses pessoais)". E, consequência final, "se ele não consegue fazer isso, ele se deprime, o que acontece frequentemente".

Drogas, perversão, depressão - marcas de um novo sujeito, figura típica de um mundo onde os padrões de regulação social se enfraqueceram ou desapareceram. Cenário despedaçado, nos sugere Dufour, que levou à grave crise financeira de hoje. O novo sujeito, além de tudo, habita um presente contínuo e imóvel. Argumenta Dufour que a nova religião do mercado "deixa um vazio quanto ao velho tormento humano da origem e do fim".

Na nova vida ultrapragmática de hoje - extremo paradoxo - há um aumento da necessidade de transcendência. Essa necessidade, alerta o filósofo, "pode permanecer dentro dos limites do razoável, mas pode ir até os delírios fundamentalistas". Não é por acaso, portanto, que o fundamentalismo de vários matizes se espalha pelo planeta; sua disseminação é o avesso de um vazio que a nova realidade do mercado acentua. É o vazio criado pelo deus mercado que exacerba a onda fundamentalista. Ela não passa de sua contrapartida. Assim como a ascensão dos dogmas é o avesso do desprestígio do pensamento crítico.

Acredita Dufour que muitos dos mais graves problemas contemporâneos estão associados a esse novo deus. Por exemplo, os escândalos de corrupção que ocupam, cada vez com mais frequência, as manchetes dos jornais. Afirma ainda que a corrupção - ao contrário do que em geral acreditamos - não pode mais ser vista na perspectiva da psicologia individual, como um desvio de conduta ou uma expressão da maldade. A corrupção, ele diz, é hoje um problema que está muito além do caráter e da moral.

"Como querer que um sistema que tem como fundamento o princípio do egoísmo não suscite inúmeras formas de corrupção?", Dufour pergunta. Para ele, a atual crise financeira fez "desabar um mito mantido cuidadosamente pela narrativa ultraliberal: aquele que afirma ser preciso distinguir os negócios saudáveis dos negócios suspeitos".

É evidente: não que todo mercado seja sujo e todo negócio, digno de desconfiança. "Nenhuma pessoa séria pode ser contra o mercado em geral", o filósofo argumenta. "Pela simples razão de que o mercado é como o pulmão: é por onde as pessoas respiram." Recorda Dufour, a propósito, a beleza de dois tradicionais mercados que visitou recentemente: o de Tepoztlán, no México, e o da Medina de Fez, no Marrocos. "Por que eles são tão bonitos? Simplesmente porque neles a economia está inserida no social." Em todos os tempos, acrescenta, o mercado soube integrar o princípio altruísta que dá à cultura o seu lugar.

Ao contrário, o que caracteriza o mercado da era ultraliberal é a destruição das culturas. "Ele é, abertamente, a promoção da anomia [a ausência de leis], a suspensão das interdições e de tudo o que possa interpô-las ao ímpeto dos apetites." Para Dufour, essas mudanças não só produzem um novo sujeito, obsessivo, perverso e deprimido, mas põem profundamente em questão a própria civilização.
Diz ainda Dany Dufour que, no mundo ultraliberal de hoje, "a distinção entre dois mundos, um perverso e outro moral, não somente não se sustenta como se trata de um puro trompe-l'oeil, ilusório e mentiroso". Não se trata de um problema de caráter ou da maldade deste ou daquele agente econômico em particular. Não é um problema pessoal, mas um problema estrutural.

Pensando novamente na crise econômica de agora, lembra Dufour que em 2000, nos Estados Unidos, eram lavados, a cada dia, cerca de US$ 1 milhão "provenientes de máfias diversas". Número que representava entre dois terços e a metade dos investimentos estrangeiros diretos. "O produto criminal bruto, no ano 2000, ultrapassava em muito 1 bilhão de dólares anuais, ou seja, 20% do comércio mundial." Para agravar a situação, a atividade econômica oficial pôs-se a fornecer, ela também, uma massa de capitais suspeitos.

Comenta Dufour: "Esses capitais corrompidos provêm de uma série de atividades bastante difundidas em grandes empresas, tal como demonstraram vários escândalos recentes". E enumera exemplos: cartéis, dumping, vendas forçadas, especulação, absorção e desmonte de concorrentes, balancetes falsos, manipulação de contabilidade, fraudes e evasão fiscal, desvios de créditos públicos, etc.

Lembra ele ainda - e a crise atual aí está como prova - que "o último estágio da dominação do capital financeiro sobre o capital industrial consistiu em diversas montagens de operações financeiras ultra-arriscadas, como o empréstimo em grande escala de dinheiro inexistente a pessoas que não tinham como pagar suas dividas". A desordem se instalou, a anomia tomou conta do mercado, e a crise que hoje enfrentamos se tornou inevitável.

Analisa: "Trata-se de um momento de regressão sem precedentes". Constatação que não o impede, porém, de conservar algum otimismo. Diz Dufour que aos indivíduos resta, em vez de consumir obsessivamente os objetos manufaturados que lhe prometem a felicidade, "trabalhar para desenvolver o objeto singular que só ele pode produzir". O investimento no singular se torna fundamental para a sobrevivência do indivíduo e para o desenvolvimento de uma comunicação viva com os outros homens.
A produção desses objetos singulares, seja na literatura, na música, na psicanálise, etc. -, "ainda são remédios, ou antídotos, à produção de indivíduos estandardizados", sugere. Ajuda a compreender que temos apenas uma vida e que, melhor do que permitir que ela seja manipulada, é "dar a essa única manhã de primavera, como dizia o filósofo, um sentido ou um sabor que só você pode dar".

Ministrando conferências pelo mundo, como a que pronunciou no dia 8 a convite do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, Dany Dufour tem ouvido, muitas vezes, que suas ideias colocam em palavras claras o que as pessoas hoje sentem de modo confuso. "Essa consciência de uma ameaça planando sobre nós existe. As pessoas esperam novas maneiras de reagir, distantes dos esquemas do passado, como 'a grande noite', 'a revolução' ou o que seja mais."

Em resumo: a expansão do divino mercado exige a produção de novas posições críticas e de novas estratégias que abandonem os velhos modelos de contestação e tenham a coragem de encarar o presente

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cadernos de Hin�rio

Cadernos de Hin�rio: "'Como �que o Mestre vivia com o povo dele? Era plantando arroz, plantando feij�o, plantando macaxeira, plantando cana, plantando banana, para ter a fartura natural. Quer dizer: que essa aqui �a riqueza que o Mestre deixou na nossa m�o, foi essa tradi�o, esse conhecimento de trabalhar uma terra e da terra tirar o p�o de cada dia. (...) o Santo Daime, enquanto terap�utica alternativa, se realiza, a olhos vistos, n�o apenas no decorrer de suas sess�es e hin�rios festejados, mas tamb�m no esfor�o do trabalho com a terra, na enxada, no ter�ado, no machado, na p�e no aguador, para assim se receber as energias positivas e eliminar positivamente as negativas, regidos pelo movimento do Sol, da Lua e das Estrelas, sendo essa a sabedoria regeneradora para curar os homens das cidades ao reencontrarem sua harmonia profunda com a M�e Natureza, e assim serem mais felizes. Este �o exemplo do C�u do Mapi�.'"

segunda-feira, 31 de maio de 2010

DECLARAÇÃO DE REVOLUCIONÁRIOS CULTURAIS 2009


Declara Independência!

Esta é uma experiência aberta.
É um pôr em palavras de algo que já está no ar.
Quanto mais esta declaração for lida, pensada ou debatida, mais a sua energia se irá manifestar no nosso mundo e na nossa sociedade.
Se sentes que o que aqui segue escrito ressoa contigo, faz desta também a tua declaração. Procura maneiras de a reler, de a partilhar, e de a colocar em acção.

DECLARAÇÃO DE REVOLUCIONÁRIOS CULTURAIS 2009

Os Revolucionários Culturais, em 2009 …

-vivem, agem e trabalham com e não contra a natureza

-sabem que a vida é demasiado complexa para ser entendida a nível intelectual

-criam e apoiam economias locais e auto-reguladas

-valorizam e protegem a diversidade de qualquer tipo

-valorizam e praticam a interdependência, uma vez que sabem que nada é realmente independente

-consideram-se equivalentes a todas as formas de vida

-protegem e apoiam a vida

-amam e apoiam incondicionalmente as crianças

-trabalham em si mesmo para uma maior consciencialização

-estão familiarizados com os princípios ecológicos e integrám-nos nas suas vidas

-consideram a música e a dança como uma parte integrante da sua expressão e da sua comunicação

-vivem numa terra animada de vida e consideram-na como algo sagrado

-entregam-se e comprometem-se em benefício da sua comunidade

-sabem cultivar os seus próprios alimentos

-experienciam e apreciam a sua percepção sensorial

-celebram a vida

-cooperam

-deixam de pensar de forma “x ou x” para pensar de forma “x e x”

-partilham conhecimentos

-integrar o estar em processo como uma forma de ser e estar

-não se identificam com o seu corpo, nem com os seus pensamentos ou emoções

-vêem a mente como uma ferramenta

-apercebem-se de que não existe Bem ou Mal

-não se identificam com qualquer tipo de rótulo ou categoria social, nem com o seu passado ou o seu futuro

-estão conscientes de que a essência de quem eles são é a própria vida

-assumem a responsabilidade pelas suas emoções

-estão conscientes e valorizam as suas relações com tudo o que de vivo e aparentemente não vivo os rodeia

-valorizam e integram a sabedoria das mulheres

-valorizam e integram a sabedoria das culturas indígenas

-participam e investem em construir relacionamentos no lugar onde vivem

-valorizam o conhecimento generalista

-estão cientes que a mudança é um dos princípios fundamentais da evolução

-trabalham para a diversificação e descentralização

-evoluem do estado de consumidores dependentes para o de produtores responsáveis

-estão à procura de formas pelas quais os seus interesses e os seus talentos se possam desenvolver

-resistem e eventualmente desobedecem a qualquer lei que ilegalize formas de auto-governo, auto-produção e sustentabilidade

-estão informados sobre o actual sistema monetário e identificam-no como uma forma contemporânea de escravidão

-identificam e boicotam monoculturas biológicos, culturais, sociais e filosóficas

-boicotam monopólios de qualquer tipo

-questionam quem quer que promova uma única solução

-valorizam a ética ambiental e humana sobre qualquer tipo de maximização de lucros

-boicotam empresas e bancos que operem com fins puramente lucrativos e de maximização de lucros

-estabelecem terras e florestas como bem comum

-estabelecem a água como bem comum

-estabelecem a biodiversidade e o conhecimento como bem comum

-estão conscientes de que todo o tempo participam no processo de co-criação

-permitem que a vida se desenvolva através deles

Berlim, 03/2009

http://culturalrevolutionaries.org/

quarta-feira, 24 de março de 2010

Link interessantíssimo

http://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&tl=pt&u=http://www.ayahuasca.com/

Site traduzido pelo Google.

Muito bom!

Benny Shanon e sua experiência com a Ayahuasca

• mapas volum e r X numbe 3 • creativit y 2 0 0 0
Ayahuasca e Criatividade
Benny Shanon, Ph.D., Departamento de Psicologia da Universidade Hebraica

Versão PDF deste documento
Como indicado em publicações anteriores (Shanon, 1997, 1998a, 1999) Eu sou um psicólogo cognitivo que está estudando a fenomenologia da experiência da ayahuasca. Meu estudo é baseado na experiência em primeira mão estendida, bem como sobre a entrevista de um grande número de pessoas em diferentes lugares e contextos. Nas publicações citadas, o leitor pode encontrar informações sobre a ayahuasca, e tanto o programa de minha pesquisa, para a discussão teórica mais informações, consulte o meu próximo livro A Antipodes of the Mind: Charting a Fenomenologia da experiência de Ayahuasca.
Fenomenologicamente, os efeitos da ayahuasca são múltiplas - que incluem efeitos alucinatórios em todas as modalidades de percepção, a compreensão psicológica, ideações intelectual, elevação espiritual e experiências místicas. Como discutido em detalhe no livro citado acima, muitas facetas destes pode ser atribuída à maior criatividade. Esta caracterização está também em consonância com o que fez por Dan Merkur (1998) no que diz respeito às substâncias psicotrópicas em geral. Segundo Merkur, o único efeito dessas substâncias é a indução de imaginação reforçada. Eu não acho que este é o único efeito destas substâncias, mas eu não concordo que seja um tema central. Deixe-me começar com os efeitos visuais que a ayahuasca induz. Quando poderosas, estas consistem em visões majestosas que são comparáveis a obras cinematográficas de natureza fantasmagórica. Os usuários indígenas da Amazônia da ayahuasca, que essas visões revelam outros, independentemente realidades existentes; muitos bebedores moderno partes dessas crenças. Apesar de não negar o caráter maravilhoso das visões sobrenaturais, como um investigador científico-minded eu prefiro considerá-los em psicológico, não ontológico, termos. Aparentemente, a ayahuasca pode empurrar a mente humana às alturas de criatividade que, de longe, superiores aos encontrados normalmente. Eu próprio já percebeu isso em conjunto com uma visão em que eu era guiado através de uma exposição expõe os trabalhos de toda uma cultura. As exposições incluídas bela objetos artísticos e artefatos que nada parecia que eu nunca tinha visto antes na minha vida inteira. O que era impressionante era que todos eles aderiram a um estilo coerente. Vê-los, refleti: "Se tudo isso for criado por minha mente, então a mente é, na verdade, de longe, mais misterioso do que qualquer psicólogo cognitivo previu." Desde então, esta reflexão permanece muito comigo: Se é a própria mente que produz as visões com ayahuasca, em seguida, os poderes criativos da mente transcender qualquer coisa que os psicólogos falam normalmente.

Como explicado em Shanon (1998b), a ayahuasca pode também provocar ideações muito impressionante. É muito típico para os bebedores de ayahuasca para informar que a bebida faz pensar mais rápido e melhor - na verdade, torna-os mais inteligentes. Vários dos meus informantes relataram a sensação de ser potencialmente capaz de saber tudo, eu também tive esta experiência. Embora, este sentimento global não é objectivamente demonstrável, meus dados não revelam alguns ideações que são verdadeiramente impressionantes. Especialmente deixe-me mencionar insights filosófico atingido por bebedores sem educação formal prévia. Algumas dessas idéias semelhantes encontrados em obras clássicas como as de Platão, Plotino, Spinoza e Hegel. Insights significativos são mais prováveis de serem encontradas nos domínios em que bebem têm competência especial. Pessoalmente, com a ayahuasca, tive muitas idéias a respeito de minha área profissional de especialização e que, após mais um exame crítico, ainda me espera. Eu ouvi o mesmo de outras pessoas. É neste sentido que eu interpreto os relatórios comum da medicina indígena, homens que a ayahuasca lhes revela o diagnóstico das aflições de seus pacientes e instrui-los sobre a forma de curar. A interpretação tradicional é que a informação vem através da revelação supra-natural. Com base na minha abordagem, tanto teórica geral e verifica que tenho realizado empiricamente, prefiro dizer que o que acontece é o resultado da sensibilidade e percepção de um domínio em que o xamã já tem conhecimento e experiência substanciais.

Como enfatizado no meu livro, alguns efeitos marcantes da ayahuasca pertencem aos desempenhos evidente. Performances impressionantes que eu testemunhei inclusive eu tocando instrumentos, canto, dança, tai-chi-como movimentos, e de agir. Nestes, os bebedores apresentaram agilidade técnica, estética delicadeza, precisão e coordenação de controle de motores, que ultrapassou em muito sua capacidade normal. Aqui está uma experiência da minha própria. Certa vez, durante uma sessão de ayahuasca privado, no calor do momento, eu decidi-me a tocar piano. Em uma forma amadora, tenho vindo a tocar piano desde a infância. Eu joguei apenas música clássica, sempre a partir da partitura, nunca improvisação e muito raramente com o público. Aqui, pela primeira vez na minha vida, eu comecei a improvisar. Joguei por mais de uma hora, e esta minha maneira de tocar era diferente de tudo que eu já experimentei. Ele foi executado em uma inabalável de fluxo, que constituem uma narração em curso que estava a ser composto, que estava sendo executado. Parecia que os meus dedos só sabia para onde ir. Ao longo deste ato, o meu desempenho técnico me surpreendeu. Outra pessoa que estava presente e ele estava muito emocionado por ela. Quando a sessão terminou, ocorreu-me que eu tinha tido a aula de piano mais maravilhosa da minha vida. Desde então, tenho sido livre jogando sem ayahuasca. A qualidade deste jogo não é assim que, sob a intoxicação, mas não apresentam algumas características que o meu piano nunca fizeram antes que a sessão de ayahuasca. Permitam-me concluir com uma palavra de cautela. Encontrei muitos que acreditavam que a ayahuasca lhes permitiu fazer coisas que não sabia nada. Por exemplo, muitos de meus informantes atestou que as pessoas ouviram falar em línguas completamente estranho para eles. Fui verificar a questão e não encontrou suporte empírico para isso. Em geral, eu recomendo fortemente contra simplista, visões reducionistas dos efeitos da ayahuasca (e de substâncias psicoativas em geral). Eu não acho que esses efeitos são diretos, biologicamente determinados produtos de substâncias químicas que atuam sobre o cérebro. Em vez disso, como argumentou longamente em meu livro, o que acontece no curso da embriaguez ayahuasca é um produto comum da substância e da pessoa que o consome. Uma analogia que me vem à mente é a de um carro de corrida. Obviamente, sem que o veículo, o motorista não seria capaz de atingir as velocidades que ele / ela faz, ao mesmo tempo, a fim de conduzir o carro e obter bons desempenhos a partir dele, um deve ser um piloto experiente. Da mesma forma com a ayahuasca: Esta poção pode dotar os seres humanos com a energia criativa especial, mas o que será feito com essa energia depende do indivíduo em questão. •

Benny Shanon (Israel)
msshanon@mscc.huji.ac.il

Referências
Merkur, D. 1998. A Imaginação Ecstatic: Psychedelic experiências ea Psicanálise de auto-realização. State University of New York Press. Shanon, B. 1997. "Um estudo cognitivo-psicológico da ayahuasca", MAPS Bulletin 7: 13-15.
Shanon, B. 1998a. "A psicologia cognitiva eo estudo da Ayahuasca," Anuário de Etnomedicina e do estudo da consciência 7 (no prelo). Editado por C. Rätsch & Baker J.. Berlim: VWB Verlag.
Shanon, B. 1998b. "As idéias e reflexões associadas com visões da ayahuasca" MAPS Boletim 8: 18-21.
Shanon, B. 1999. "Visões Ayahuasca: Uma investigação comparativa cognitivo," Anuário de Etnomedicina e Estudos da Consciência 8 (no prelo). Editado por C. Rätsch & Baker J.. Berlim: VWB Verlag.


terça-feira, 23 de março de 2010

A CIÊNCIA CONTRA O PRECONCEITO


O debate sobre o uso do chá Hoasca (Ayuasca) levantado com o trágico assassinato do cartunista Glauco e se filho, Raoni, tem sua defesa, não pelos seus adeptos, o que seria "natural", mas pelos adeptos do pensamento científico que esclarece os benefícios do uso deste chá. Matéria que deve ser lida e divulgada com o propósito de evitar generalizações que levam ao preconceito! Parabéns a UOL!

Ayahuasca é droga?





Três perguntas para Draulio de Araujo e Sidarta Ribeiro, co-autores de pesquisa do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) sobre efeitos do chá do Santo Daime no cérebro e na mente. Como as respostas foram só parcialmente aproveitadas na reportagem abaixo, reproduzo-as na íntegra recebida por e-mail:


1. A ayahuasca pode e deve ser classificada como droga? Perigosa, talvez?

Draulio de Araujo - A Ayahuasca pode ser classificada como uma droga, sim, usando o entendimento de que ela contém substâncias químicas que alteram os mecanismos de neurotransmissão cerebral de forma direta. Baseado na mesma definição também podemos incluir nesse conjunto, o tabaco, o álcool, o café, e o chocolate. Como qualquer outra sub stância psicoativa, há algumas considerações importantes a serem feitas para balizar uma avaliação sobr e o risco associado ao seu uso. A primeira diz respeito ao seu poder de dependência química. No caso da Ayahuasca, que age sobre o sistema serotonérgico, não há comprovação científica sobre a eventual dependência química causada pelo seu uso. O segundo, as alterações sobre o sistema nervoso autonômico. No caso da Ayahuasca, há evidências que as mudanças de pressão arterial, frequência cardíaca, e respiratória, além da temperatura do corpo, permanecem dentro de limites considerados normais. Por outro lado, sabe-se que é importante evitar o uso da Ayahuasca nos casos em que o indivíduo esteja fazendo uso de medicamentos que alteram os níveis de serotonina, como é o caso de alguns anti-depressivos que estão baseados na inibição seletiva de recaptação de serotonina , por exemplo, o PROZAC.

Sidarta Ribeiro - Droga certamente, como o LSD, a maconha, o álcool e o café. Perigosa.... depende de muitas variáveis. Certamente é uma droga muito mais benigna para o organismo do que a heroína e a cocaína, pois não há overdose conhecida, nem adição pronunciada. Entretanto acredito que existam grupos de risco que não devam experimentar.

2. Foi sábia a decisão de permitir seu uso, legalmente?

Draulio - Creio que a decisão de permitir seu uso foi acertada, por três motivos. Primeiro, a Ayahuasca tem alguns efeitos interessantes que agora começam a ser desvendados pela ciência. De certa forma, essas pesquisas avançam a passos largos tendo em vista a legislação em vigor, e seus resultados tem demonstrado vários efeitos positivos. Por exemplo, estudos realizados na USP de Ribeirão Preto, coordenados pelo Prof. Jaime Cecílio Hallak, tem encontrado resultados bastante animadores quando a Ayahuasca é utilizada em pacientes com depressão que não respondem bem ao tratamento convencional. Ainda, outros estudos tem apontado em uma direção curiosa: a Ayahuasca parece ter um papel importante para livrar
do vício dependentes químicos em outras drogas, como o crack e o álcool. Estas, sim, com um prejuízo in dividual e social tremendo. Segundo, os riscos associados à Ayahuasca, que vem sendo testada há séculos, são baixos (há indícios que seu uso ocorra desde 2000 a.C). Por fim, ela já tem um papel importante na expressão cultural do povo Brasileiro.

Sidarta - Acho que sim. A Ayahuasca é essencial para algumas religiões, e seu uso no contexto religioso me parece muito benigno, como o peyote entre os Navajo. Tornar ilegal uma planta sagrada me parece absurdo.

3. Acredita que o assassinato do cartunista Glauco poderá de alguma forma alterar a percepção pública sobre a relativa inofensividade da ayahuasca?

Draulio - Alterar, sim. Para qual lado, não sei. Depende da maneira como esse caso evolua. Meu temor é que a falta de informação e o juízo preconcebido acabem por pautar as discussões.


Sidarta - Espero sinceramente que não, pois o caminho para o "problema das drogas" não é proibir, e sim regular. O assassinato do Glauco não pode ser debitado na conta da Ayahuasca, pois o assassino usava "n" coisas diferentes, e parece ter psicotizado ao longo do tempo. Acredito porém que os grupos de risco para Ayahuasca não estão bem definidos. Psicóticos bordeline, gestantes e crianças deveriam ser impedidos de tomar o chá, na minha opinião.

Escrito por Marcelo Leite às 19h58

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Dai-me com moderação





O curandeiro equatoriano Carlos (à dir., com calças listradas) na Guatemala

O poder da ayahuasca sobre a vida de uma pessoa pode ser devastador -em geral, para o bem. A americana Margaret de Wys que o diga. Depois do contato com a bebida alucinógena originária da Amazônia, conhecida no Brasil como hoasca, sua carreira de compositora sofreu um baque e o casamento acabou, mas ela se curou de um câncer de mama.

O tumor havia sido diagnosticado em 1999. Com simpatia pelo xamanismo, De Wys (pronuncia-se "di uaiz"), rumou para a Guatemala. Queria buscar uma cura entre os participantes de uma cerimônia maia de caráter ecumênico, com curandeiros de vários países. Ali encontrou o equatoriano Carlos e, por suas mãos, a hoasca.

"Eu enxergo dentro de você -suas veias, seus órgãos, seu sangue, suas células", anunciou-lhe Carlos, da etnia shuar (ou jivaro), na cerimônia em que beberam o preparado do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas de Psychotria viridis.
"A fumaça negra está presa em seu peito. Venha para o Equador e eu a curarei."

"Black Smoke - A Woman's Journey of Healing, Wild Love, and Transformation in the Amazon" (Fumaça Negra, ed. Sterling, 240 págs., US$ 19,95, R$ 36) é o título do livro que a professora do Bard College, de Nova York, publicou há um ano sobre "a jornada de cura, amor selvagem e transformação de uma mulher na Amazônia", como diz o subtítulo. (...)

Numa das alucinações, uma onça macho invadiu o corpo de Carlos, e outra, fêmea, o da americana. "O jaguar em Carlos era selvagem e brutal", contou De Wys à jornalista Roberta Louis em entrevista publicada pela "Bomb Magazine".
Hoje, sua relação com o equatoriano é estritamente profissional, ressalva.

O poder da hoasca sobre a mente deriva dos potentes alcalóides presentes no cipó B. caapi e no arbusto P. viridis empregados no preparo do chá.

O arbusto é rico na substância alucinógena dimetiltriptamina (DMT), que não tem efeito quando ingerido. Mas a DMT conta com a ajuda da harmina e da harmalina do cipó para chegar ao sistema nervoso central, onde juntas iniciam a subversão da consciência.

O mecanismo básico é uma inundação de serotonina, neurotransmissor com múltiplos e complexos efeitos no corpo e no cérebro.
Pessoas deprimidas, por exemplo, costumam ter baixos teores de serotonina. A fluoxetina (Prozac) consegue melhorar sua vida porque impede a recaptação (retirada) do neurotransmissor no espaço livre entre os neurônios, reforçando a comunicação entre eles.

Há uma tradição de pelo menos duas décadas de pesquisa sobre a hoasca no Brasil. Uma equipe de dez neurocientistas da USP de Ribeirão Preto, do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e do Centro IBM JB Watson (Nova York) tem apresentado em congressos um trabalho com algumas revelações surpreendentes sobre a beberagem. Seis deles já experimentaram a hoasca.

Draulio de Araujo, Sidarta Ribeiro e seus colegas trabalharam com dez usuários frequentes do chá. Todos eram membros do grupo de Mestre Pelicano (irmão do cartunista Glauco) em Ribeirão Preto. O manuscrito tem o título "Vendo com os Olhos Fechados". (...)

Sob a ação do chá, a imaginação chega ao poder, de certo modo, com a área visual primária (BA17) tomando a dianteira da ativação das áreas frontais envolvidas na vida consciente. Nessa sequência, as imagens compostas pela imaginação sem peias aparecem para a mente como fatos.

"A hoasca confere status de realidade às experiências interiores", resumem os neurocientistas. "É compreensível, portanto, por que a hoasca foi culturalmente selecionada ao longo de muitos séculos por xamãs da floresta tropical para facilitar revelações místicas de natureza visual."

"As mirações são tão reais quanto a percepção visual de elementos externos, pelo menos no que diz respeito à modulação observada no sistema visual primário", explica Draulio de Araujo.

"Foi uma baita surpresa", afirma Sidarta Ribeiro. "Esperávamos que as áreas frontais assumissem a liderança."
Tais conclusões, no entanto, "explicam" (aspas de Ribeiro, em comunicação por e-mail) como ocorrem as mirações, sem excluir nem confirmar interpretações místicas. (...)

Apesar do reconhecimento da legitimidade do uso religioso do chá, parece haver consenso de que se trata, sim, de uma droga. "Certamente, como o LSD, a maconha, o álcool e o café", afirma o neurocientista Sidarta Ribeiro. "É uma droga muito mais benigna para o organismo do que a heroína e a cocaína, pois não há overdose conhecida, nem adição [vício] pronunciada."
Potencial perturbador. (...)

Para Ribeiro, a hoasca não deve ser dada a quem estiver no limiar de psicose, grávida ou for criança. "Pessoas com tendências psicóticas? Mentes frágeis? Esquece!", sentencia De Wys, que não admite gente desse tipo em seus grupos.
Mas ela sustenta que Carlos já curou esquizofrenia com a hoasca -e até gangrena. (...)

É ver para crer.

Leia a íntegra da reportagem no caderno Mais da Folha de S.Paulo (aqui, só para assinantes da Folha e do UOL).

Escrito por Marcelo Leite às 09h04

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http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2010-03-21_2010-03-27.html#2010_03-22_20_58_04-129493890-28

sexta-feira, 12 de março de 2010

Preste atenção!

Preste atenção!!! Isso mesmo preste atenção!!!
Difícil, não? Será que estamos atentos ou estamos sempre presos ao tempo? Como assim? Espere aí que já explico.
Esperar... pronto, lá vem o tempo novamente... e lá se foi a atenção.

Pois bem, para estar atento é preciso desconectar-se do tempo. Pois a sensação temporal somente nos remete ao passado ou ao futuro. O presente é atemporal. Quando prestamos atenção, nos conectamos com o presente, com o agora, com este momento.

Prestar a atenção no presente momento e, estar com a mente sempre alerta, é estar conectado com o seu eu interior e com o mundo que nos cerca. É desligar o pensamento às coisas que passaram e despreocupar-se com o que virá. Viver a passagem deste exato segundo enquanto você lê estas palavras. Pouco a pouco começaremos a perceber que o tempo não existe. Nossa mente cria o tempo com a intenção de organizar o cotidiano. O problema é que muito de nós estamos presos a ele, seja no passado ou no futuro.

Agora pare... respire... preste bem atenção no ar que entra e sai dos seus pulmões...
Esvazie a mente... Preste a atenção no presente... somente no presente.

Esta é a chamada meditação zen. É uma pratica da meditação no Zen Budismo. Consiste em manter a mente alerta a todo instante. Você não precisa necessariamente estar parado, sentado, você pode também estar caminhando, tocando violão, digitando, lendo, cozinhando, regando uma planta, etc. Basta estar atento ao que acontece nesse exato momento, em cada movimento, nas cores, nas formas, nos sons, no silêncio... Deixar a mente e os sentidos sempre alerta. Parece simples, não? Pois saiba que o caminho para a simplicidade também exige práticas. No inicio não é tão fácil. Começamos a perceber o quanto somos demasiadamente apressados com nossas práticas durante nosso dia-a-dia. Percebemos o quanto nós precisamos desacelerar e nos desprender daquilo que é temporal.

Uma das praticas que enriquece o espírito é a paciência. Ela nos ensina a caminhar um passo de cada vez rumo ao infinito, ao eterno. A ansiedade e a pressa são amigas da perfeição. Elas querem o perfeito e, o perfeito, é limitado, assim como o tempo. Nosso espírito é ilimitado. Se aprendermos durante o agora a caminhar cada passo não nos preocuparemos com perfeição, nem com passado ou futuro. Com a mente conectada ao agora, os limites impostos por nossos anseios e inquietações se desfazem. Podemos sentir o portal da atravessia navegar pelo eterno movimento das coisas, inclusive, da vida.
Sentir a plenitude da vida em seu eterno movimento... Neste momento...

A GENTE QUER VER HORIZONTE DISTANTE! ADEUS GLAUCO


OS TRAÇOS DO ESPÍRITO

Conhecido como cartunista de humor, o criador do Geraldão, da Dona Marta, do Zé do Apocalipse e do Casal Neuras aprendeu a sonhar com Castañeda e tornou-se um líder espiritual do Santo Daime.


Ferve o caldeirão de raças e culturas brasileiras. De um lado, o culto do Santo Daime, criado na Amazônia dos anos 30 pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra. De outro, a febril atividade da imprensa alternativa do Rio de Janeiro e de São Paulo, na luta contra a ditadura militar. Como imaginar que histórias tão dessemelhantes viessem a se encontrar, miscigenar, dar frutos? Pois assim sucedeu. E a costura foi feita por Glauco Vilas Boas, o Glauco.


Pouca gente sabe mas o criador do Geraldão, do Geraldinho, do Casal Neuras, da Dona Marta, do Zé do Apocalipse, do Doy Jorge, do Netão, da Picadinha, d'Ozetês, o cartunista das charges políticas, publicado pela Folha de S.Paulo desde 1977-"são 26 anos, vixe!" - tornou-se um líder espiritual. Juntou um povo e ergueu uma igreja do Santo Daime no Morro de Santa Fé, próximo do Pico do Jaraguá, na Grande São Paulo, pela qual já passaram milhares de pessoas. "Muita gente se conheceu dentro do salão e se casou - já são mais de 20 crianças exclusivas da igreja Céu de Maria", diz, satisfeito. E resume, certeiro: "É uma faculdade da Nova Era."


As mãos de Deus estão tecendo a rede. Mexendo o doce. Desde quando a história começou, em 1993 - numa casinha no bairro do Butantã, depois numa maior, na entrada da Cidade Universitária, até chegar a esse morro -, o ponto foi se firmando, virou igreja e, em 2000, acabou escolhida igreja oficial de São Paulo. Uma irmandade está indo morar à sua volta. "É um condomínio de daimistas", explica Glauco. "Batizado de Vila Astral pelo Padrinho Alfredo." Padrinho Alfredo, filho do Padrinho Sebastião, comanda a doutrina desde a morte do pai, em 1990. "É isso aí, não tem mistério", diz ele.

Mistério tem. Porque a história começou muito antes, quando ele aprendeu a sonhar. Glauco relata coincidências. Agradece a sorte (mas sorte é poder pessoal, diz Carlos Castañeda). Sorte de ter encontrado, ainda em Jandaia do Sul, Paraná, onde nasceu, um amigo que lhe apresentou o Pasquim e os Beatles, e com quem criou seus primeiros quadrinhos. De ter topado com dois mestres do jornalismo logo que chegou a Ribeirão Preto, interior de São Paulo. De ter sido premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1977, justo quando todo seu panteão - Henfil, Angeli, Jaguar, Millôr, Ziraldo, os Caruso - fazia parte do júri. De ter sido hospedado pelo Henfil e adotado pelo Angeli ao chegar a São Paulo.


Em 1975, 18 anos, Glauco foi morar em Ribeirão e logo deu as caras no jornal editado por José Hamilton Ribeiro. "A cidade tinha uma safra de feras - o Sérgio de Souza, depois do Bondlinho, também foi para lá montar um jornal alternativo." (Para quem não sabe, José Hamilton Ribeiro fez a cobertura, pela Realidade, da Guerra do Vietnã. Sérgio de Souza, o Serjão, foi seu companheiro de Realidade e é o criador da revista Caros Amigos.)

Zé Hamilton Ribeiro lhe ofereceu emprego. "Foi meu primeiro padrinho", diz Glauco, que já tinha dois personagens, Rei Magro e Dragolino. "Eles passavam o dia todo queimando um", lembra. Zé Hamilton também se recorda. "Percebi que estava diante de alguém especial - o artista capta sinais que a gente, comum, não percebe. Sua presença física já era de oposição." Sobre o Glauco e o amigo Sérgio de Souza, diz: "Bom mesmo são as pessoas que conseguem fundar sua própria igreja - não sobre pilares de ouro, pois essas podem ser roubadas, mas sobre os pilares do espírito".

Outros padrinhos se seguiram. O cartunista Angeli, que editava o Vira Lata no folhetim dos tempos do Tarso de Castro, começou a publicar seu trabalho. O Henfil, sua maior influência desde que conheceu o Pasquim, o hospedou durante nove meses. "Estou falando com Deus, pensava, quando conheci o Henfil. Os Fradinhos, aquele traço todo solto, o uso do palavrão - o trabalho dele era um avanço muito grande."

Na sombra do cartunista, contudo, nascia o sonhador. Glauco aprendeu a sonhar consciente com o livro A Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. "Através das instruções dele passei a sair do corpo e a comprovar que estive em certos lugares - perdi muito tempo com isso. Eu ia lá na frente da redação do jornal, sonhando, ia lá e decorava o número do poste, numa plaquinha. Acordava e ia correndo ver - estava lá! Passei uma época obcecado em convencer minha razão."

Foi quando sonhou com o Padrinho Eduardo, que ainda não conhecia. No sonho um índio dizia, dirigindo-se a uma multidão diante dos dois - olha, é ele quem vai levar vocês. Acordou achando que tinha sonhado com Dom Juan Matus, o feiticeiro yaqui de quem Castañeda foi aprendiz. "Parecia um inca - um narigão, baixinho, atarracadinho... nunca esqueci aquele véinho." Foi a sinalização do caminho para o Santo Daime.

Com The Teachings of Don Juan (títu lo original e mais sensato de A Erva do Diabo), o antropólogo Carlos Castañeda abria, em 1968, uma corrente de atenção para as plantas de poder dos índios ame ricanos. "Ele devolveu um valor que estava sendo deixado de lado, que é prestar atenção nas plantas professoras dos nossos caboclos." Muita gente considerava aquilo alienante. Mas Glauco, cartunista de esquerda, convivia também com o Budismo, com Osho... "A antropofagia me ensinava a possibilidade de freqüentar todas essas linhas."


A oportunidade de conhecer o Daime sempre lhe escapava. Até que um dia... "baixou o Zé do Apocalipse numa roda de bar e comecei a alugar o povo com disco voador, Eubiose, Dorn Bosco, Smetack, Madame Blavatsky, Rudolf Steiner, o Brasil sendo a pátria da Nova Era pela mistura das raças. A moçada pensando: esse cara é doido! Fiquei meio puto e intimei meus guias - vocês têm dez minutos para mandar um veio de luz para me ajudar, falei com meus botões. E fiquei olhando o relógio." No final do tempo chegou Leo Christo, psicólogo mineiro, irmão do Frei Betto." Estava te esperando desde a índia, veio", o Glauco disse para ele - que só relaxou quando soube que se tratava do criador do Geraldão.


Era 1989 e o Leo lhe apresentou o Daime. Glauco começou a freqüentar a comunidade de Visconde de Mauá, na fronteira do Rio com Minas Gerais, liderada pelo escritor, poeta e ex-guerrilheiro Alex Polari de Alverga. Com ele foi ao Céu do Mapiá, a comunidade-mãe do Santo Daime, na Amazônia. E foi lá, no primeiro trabalho de que participou, que viu Padrinho Eduardo, o véinho do sonho. "Entendi que aquilo de ele dizer, no sonho, para a multidão – “é ele quem vai levar vocês...” — significava que eu ia levar um povo para o Mapiá. E criei coragem para abrir um ponto do Daime."


Glauco inaugurou um grupo de estudos, o que causou certo incômodo nos daimistas de São Paulo." Mas devagarinho o pessoal entendeu que vinha chegando uma moçada com o meu jeitão - estudantes, o pessoal da night, os viciados, toda a fauna paulista. O sonho era a procuração para me dar coragem." O ponto em frente à USP exigiu mesmo muita coragem. Quando foi alugada, a casa estava ocupada por meninos de rua. Na frente dela trabalhavam prostitutas e travestis. A cada trabalho os vizinhos chamavam a polícia. Um clima meio dark, digamos.


"Mas tinha uma luz que transcende essa trevinha", diz Glauco. "Era o amor do Cristo, mesmo, que eu sentia. Quando abri o portão daquela casa tinha dez meninos de rua ali no fundo, numa fuinha, atocaiada. Um pacotinho, de presente, pronto para começar o trabalho. Lembrei-me do banquete do Cristo, quando Ele convidou todo mundo, mas estavam todos ocupados com seus negócios. E aí Ele chamou o povão, os simples, os desvalidos. Quando o Céu de Maria abriu ali, senti que tinha a força da caridade contra a miséria humana. Dois daqueles meninos estão comigo até hoje."

Glauco colheu ali o seu povo. "Chegaram os artistas, a turma da Vila Madalena." E as mulheres. Primeiro a Kiki, madrinha da Flor das Águas, igreja pioeira de São Paulo. Em seguida, as irmãs Paula e Bia, que se tornaram o esteio da casa. Depois as irmãs Silvia e Lu, filhas do Serjão de Souza.



Na FM do astral
Com a união entre Bia e Glauco, firmava-se a igreja. "A Bia me ajudou muito a chegar a esse grau do Céu de Maria", diz Glauco. "A Juliana também, ela segurou o canto, junto com a Gercila, do Mapiá." O Céu de Maria cresceu e se mudou para o Pico do Jaraguá. Glauco e Bia construíram ao lado da igreja uma casa que está sempre cheia de mapienses. Padrinho Eduardo, que já ficava muito em São Paulo, veio morar no condomínio com Tonho, o filho dele.

A energia que rege o Céu de Maria é feminina, diz Glauco. "Mestre Irineu recebeu adoutrina da Virgem Mãe, o Padrinho Sebastião falava da força e da firmeza das mulheres. A música aqui é firmada nas mulheres." A música é o elemento ritual que lhe é mais caro. O canto e os instrumentos - violão, flauta, percussão, o Glauco sempre na sanfona -são a base de um bom trabalho. "Se estiver desafinado.o couro come." Ele considera os hinos do Daime um tesouro musical. Seu hinário, o Chaveirinho, traz os hinos ofertados pêlos padrinhos e os 37 que recebeu até agora (no Daime, hinos não são compostos, mas "recebidos").

O culto do Santo Daime, que consagra o uso da ayahuasca, tem raízes na imemorial utilização de plantas de poder pelas tribos indígenas da América, nos rituais de xamanismo, nos movimentos messiânicos do Brasil e nas formas de produção não-capitalista incrustadas no sistema. Há vários livros publicados sobre o assunto. Podem também ser encontrados os relatórios do Conselho Federal de Entorpecentes, elaborados nas ocasiões em que foi chamado a deliberar, e sempre liberou, o uso dessa substância psicoativa em rituais coletivos.


O chá, feito das plantas professoras Banisteriopsis caapi (cipó) e Psychotria viridis (folha rainha), tem reconhecido poder de cura, particularmente da de pendência de drogas, álcool, nicotina. "É um dos poucos lugares onde o pessoal consegue se recuperar do crack, uma droga devastadora. Já existem muitos depoimentos de pessoas que se curaram aqui", afirma Glauco. Há também relatos de estabilização de casos de Aids e câncer. "A cura todos vivem, seja ela física, mental ou espiritual. Se você está harmoniza do, o Daime lhe mostra realidades muito finas, superiores. Mas enquanto não arruma a casa não dá para sintonizar naquela FM do astral", diz.

Glauco considera que estamos vivendo, há tempos, um apocalipse ambiental. Mas tem esperança na consciência que vê despertar no mundo. "Vai que, de repente, vira e o povo começa a dar valor a essa cultura que sempre negou, acho que dá tempo de mudar." Sua ligação com os índios é forte. Os dois filhos, ambos com 18 anos, têm nomes indígenas - Ipojucam e Raoni, este já iniciado na doutrina. "O Daime é uma floresta concentrada. Quando entrei na mata pela primeira vez senti que era habitada, cheia de seres espirituais. Cada árvore derrubada tinha uma energia espiritual que não vai mais poder ser aparelhada. Mas acho que o Brasil ainda tem muita mata, dá para a gente acordar, para segurar esse povo."

por Inês Castilho

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Êxodo urbano!


Venho alimentando a algum tempo a ideia de que o futuro do homem está relacionada a sua volta à natureza, a princípio como necessidade, já que vemos hoje o colapso das grandes cidades no atendimento daquilo que é essencial à vida, por exemplo, a água! Sem contar o esvaziamento do sentido da vida e a superficialidade das relações humanas ... entre os que defende esta ideia está o poeta, Gary Snyder, em seu livro "Re-habitar: ensaios e poemas" ... e talvez seja por isso, que pensar natureza e cultura torna-se algo tão imprescindível no momento em que vivemos ...


< de onde vem essa sua idéia de êxodo urbano? O campo está preparado para receber as pessoas de volta?

Chamei isso de re-habitação, um conceito que, às vezes, eu mesmo acho que parece ficção científica. Mas, quando olho para a realidade ao meu redor, sinto que meu raciocínio faz sentido: caminhando nesse ritmo, haverá um tempo futuro em que seremos obrigados, por causa do colapso ambiental, a deixar as cidades e os subúrbios, voltando para os campos.As pessoas vão voltar a viver com simplicidade e ecologicamente, desenvolvendo uma intenção sincera de estar ali por muitos milhares de anos, mantendo práticas verdes e sustentáveis.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ANTROPO-LÓGICAS I


"Agora, tudo mudou. Os selvagens não são mais etnocêntricos, mas cosmocêntricos; em lugar de precisarmos provar que eles são humanos porque se distinguem do animal, trata-se agora de mostrar quão pouco humanos somos nós, que opomos humanos e animais de um modo que eles nunca fizeram: para eles, natureza e cultura são parte de um mesmo campo sociocósmico. Os ameríndios não somente passariam ao largo do Grande Divisor cartesiano que separou a humanidade da animalidade, como sua concepção social do cosmos (e cósmica da sociedade) antecipa as lições fundamentais da ecologia, que apenas agora estamos em condições de assimilar." (Reichel-Dolmatoff 1976 apud VIVEIRO DE CASTRO, Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio, 1996, p. 124).