segunda-feira, 6 de julho de 2009

Professor, pra quê?

Caro leitor(a), suponhamos que seu filho ou mais provavelmente sua filha, caso houver, no auge das suas crises vocacionais típicas da adolescência, venha lhe pedir um conselho - daqueles que só pai ou mãe sabem dar - sobre uma dúvida cruel que lhe tira o sono: o que cursar na faculdade? Entre “Direito”, “Administração” e “Pedagogia”, qual escolher? Se o conselho é difícil de se dar, imagine a decisão que deve ser enfrentada pelo adolescente? Mas como pai e mãe, você tem a “obrigação”de iluminar seus caminhos com bons e acertados conselhos, afinal é a vida futura deles que está em jogo.
Uma das estratégias na hora de tomar decisões em situações complicadas é a de excluir as hipósetes menos prováveis. Neste caso, qual seria o seu conselho, qual é a hipótese menos provável nesta escolha, em outras palavras, qual destes cursos oferece menos perspectivas ao seu filha (o)? Tomando como referência as incontáveis referências negativas sobre a profissão de professor, tais como “Deus me livre aguentar falta de educação dos filho dos outros!”; “salário de professor não dá pra nada”; “passar fome? melhor fazer outra coisa!”, imagino que a hipótese menos provável seria, de ante mão, descartar a terceira.
Dependendo da votação dos projetos de lei complementar de n. 19/2009 e 20/2009, a pedagogia ou cursos de licenciatura (os que habilitam uma pessoa a ministrar aula) se tornará não a escolha menos provável, mas uma “escolha suicida” do ponto de vista profissional. Já que em um de seus artigos, fica explícito que uma das inúmeras categorias de professor (veja a nomenclatura: OFA “F”!) poderá ministrar aulas durante dois anos, sendo que no terceiro ano, ele fica impedido, por lei, de ministrar aulas no estado. Este maravilhoso projeto de lei elaborado pelas cabeças “pensantes” do estado, não responde, aliás, nem quer saber, como há de comer esse “filho-de-Deus” que estudou quatro ou cinco anos para trabalhar com o que há de mais fino em ser humano: sua educação.
A profissão que em outros países é destinada aos melhores alunas (os), “indicados” a dedo pelos dirigentes, no Brasil, não pode nem ser sugestão ou conselho de pai ou mãe, aliás, é um conselho que não deve ser dado a alguém que está começando sua vida profissional e que tem um longo percuso pela frente.
Como professor, questiono aos meus alunos sobre o futuro de suas vidas e a escolha de profissões e ficava feliz quando um ou dois dizia que “queria ser professor”, caso o “projeto” se transforme em “lei”, serei o primeiro, em nome da minha consciência, a dizer-lhes para não fazer tal “estrago” na sua vida, já que, se esse aluno(a) permanecer no estado de São Paulo como um futuro professor, comerá dois anos, o terceiro ele passará fome, literalmente. Não quero isso para os meus alunos, assim como imagino que nenhum pai ou mãe quer isso para seus filhos (as).
Por que a profissão de professor deixou de ser atrativa para os nossos jovens? O que há de errado com ela? Eu vejo meus alunos adolescentes, cheios de vida, de criatividade, de potencial a ser descoberto, participo de suas vidas, estou com eles diarimente, mais, às vezes, que o próprio pai ou mãe. Isso me realiza. Agora, quando vejo as “burrices” da burocracia, o descaso pela qualidade e as propagandas mentirosas na TV sobre a educação do estado de São Paulo, fico decepcionado e dá vontade de fazer qualquer-outra-coisa e me afastar. Lembrando Sartre, o midiático filósofo francês, causa “náuses”.
Caro, leitor (a), se o seu filho estuda em uma escola pública você deve se preocupar com essas “novidades”: a intenção é transformar o estado mais rico da nação em um estado de pessoas embrutecidas e burras, por uma simples e óbiva razão: é mais fácil de governá-las! Caso tenha interesse pela educação de seu filho(a) não dê crédito às propagandas enganosas do governo. Em minha experência docente nunca vi um escola pública parecida com aquelas que surgem na TV. Vá a escola do seu filho (a) e converse pessoalmente com seu professor (a), enquanto existem! Pois, dependendo das vontades políticas reinantes, dentro em breve haverá um TV de plasma, “educando” seu filho “a distância”. Ou, quem sabe, cada aluno estudará em suas casa através de um notebook. Lembrando que, se livros e computadores ensinassem por si, os professores (as) teriam sido suprimidos a muito tempo.